Ministro Lobão defende a criação de uma empresa estatal para contratar serviços seguindo o modelo de “riesgo compartido” adotado na Bolívia entre 1996 e 2006.
O ministro das Minas e Energia Edson Lobão anunciou no último dia 27 – em entrevista ao jornal Valor Econômico – sua proposta de privatização final do petróleo brasileiro a partir da criação de uma empresa estatal cujo objetivo seria contratar companhias como “Petrobrás, Esso e Shell” para exploração petrolífera.
A citada entrevista apresenta-se repleta de termos “patrióticos” e “nacionalistas” afirmando sua exa. que a nova empresa seria “100% da União 100% do povo brasileiro”, ao contrário da Petrobrás, cujo controle estatal estaria situado – ao que podemos concluir da fala do Sr. Lobão - no campo do simbólico com apenas 40% em mãos do governo brasileiro.
O modelo proposto ao governo para “salvação” do petróleo brasileiro segue a fórmula neo-liberal dos “contratos de riesgo compartido” adotados na Bolívia em 1996 através da lei 1689 tardiamente traduzido pelo ministro Lobão de “contrato de partilha da produção”. Nesta modalidade contratual o petróleo continuaria como propriedade da União conforme determina as constituições do Brasil, da Bolívia e grande parte dos países produtores deste valioso mineral, entretanto sua exploração seria entregue as empresas particulares.
O caso boliviano nos auxilia no entendimento da fórmula Lobão e constitui, em nome da abertura do mercado e dinamismo da economia, a transformação do Estado em proprietário do bem natural petróleo ficando obrigado, em função da alegada ineficiência estatal dos discursos neo-liberais, a repassar às empresas privadas o direito da exploração econômica dos hidrocarburos. Na Bolívia, para concretizar a crença neo-liberal, seguiu-se a transformação da primeira estatal de exploração de petróleo da América Latina a “Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos” (YPFB) em uma empresa, controlada pelo governo, destinada à supervisão dos grupos privados contratados para desempenharem sua antiga função.
No Brasil – adotada a fórmula Lobão – os princípios ideológicos neo-liberais seriam radicalizados assumindo o governo o abandono da Petrobrás, através de sua entrega ao controle definitivo dos oligopólios, criando em seu lugar uma empresa débil sem a estrutura tecnológica e humana necessária para desenvolver uma política econômica do petróleo que atenda os interesses nacionais.
O ministro Lobão parece desconhecer que a crença neo-liberal na liberdade total do mercado e fé na regulação atravessa uma séria crise – em grande parte decorrente da elevação dos preços do petróleo – fato motivador de ações intervencionistas em países europeus, asiáticos e americanos. Essas nações – em diferentes graus - estabelecem políticas de garantia do abastecimento energético cujo teor pode variar de ações militares simbolizadas na invasão do Iraque, subsídio ao combustível como observado na Europa, criação de uma OTAN do petróleo, limitação dos ganhos do setor através de “regulação” de preços e até congelamento de preços como observado no México do Tratado de Livre Comércio.
Enquanto isso continuamos em nossa posição colonial assistindo a ameaça de entrega das recentes descobertas petrolíferas dos gigantescos campos de pré-sal ou mesmo ignorando a redação de uma proposta de legislação que entrega o nosso pouco explorado gás aos oligopólios internacionais através de uma proposta de lei que retira do transporte deste produto sua condição de utilidade pública.
Neste contexto é preciso que a Petrobrás resgate o seu papel histórico de empresa responsável pela soberania energética do Brasil e para este fim é necessário a coragem de retomar a luta pelo monopólio estatal do petróleo retirando o Brasil da incomoda posição a qual foi submetido durante o governo Fernando Henrique Cardoso. A inspiração para este resgate encontraremos no ano de 1951 na tese mineira do petróleo de autoria do Dr. Washington Albino com o apoio da Associação Comercial de Minas Gerais, então presidida por Renato Falci, na qual defendia-se a criação de uma Petrobrás estatal – não uma empresa mista – como executora do monopólio petrolífero do estado.
O modelo do Dr. Washington Albino cinqüenta anos mais tarde foi implantado na Venezuela, Bolívia, Equador e, ao contrário das declarações do ministro Lobão, é observado no Irã e outros países produtores. A defesa de nossa soberania energética depende da mobilização pelo retorno do monopólio e fortalecimento da Petrobrás e para isso precisamos iniciar uma campanha nacional quem sabe revivendo em nosso povo o retorno às ruas da frase: “O PETRÓLEO É NOSSO!”.
*Mestre em Direito, Historiador, Dir. Cientifico da Fundação Brasileira de Direito Econômico.
Este artigo foi publicado, tambem, na FM PAN DE AQUIDAUANA - MS
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