quinta-feira, 17 de abril de 2008

Petróleo é guerra (Sebastião Nery)

Lucio Bittencourt, deputado federal (50 a 54) do PTB de Minas, senador eleito em 54, candidato a governador em 55 (morreu na campanha, em desastre aéreo, a caminho da Pedra Azul), querido professor de Direito Penal da nossa Faculdade de Direito, era um bravo nacionalista.

Quando os estudantes levaram para as ruas, em 1953, a campanha do "O petróleo é nosso", convocamos um comício para a praça da estação e convidamos todos os parlamentares. A polícia proibiu, alegando que era organizado pelos comunistas. E era. Mas não só. Nenhum deputado federal apareceu. Apenas alguns estaduais e dirigentes de organizações populares, sindicais e estudantis, na praça cheia, cercada pela policia. E lá na frente, servindo de palanque, um caminhão sem as laterais e um microfone de pé.

De repente, chega o deputado e já candidato a senador Lucio Bittencourt, elegante, valente, alto, magro, terno claro, bigodinho preto, e vai direto para o caminhão-palanque. Fomos juntos. A polícia não teve coragem de barrá-lo. Alguns de nós, deputados estaduais, líderes sindicais e estudantis, falamos. Ele pegou o microfone e começou:

- Ontem, chegando a Minas, li nos jornais que a polícia havia proibido este comício. Liguei para o governador Juscelino, ele me disse que eram ordens do Rio.

onfesso que tive dúvidas de vir. Mas, à noite, dormindo, ouvi o povo, reunido nesta mesma praça, me dizendo:

- Vai, Lucio, vai! Vai, Lucio, vai!

E Lucio foi. Deu dois passos à frente e caiu lá embaixo do caminhão. Ainda tentei segurá-lo pela ponta do paletó. Não adiantou. Desabou. Acabou o comício. No dia seguinte, no palácio, Juscelino dava gargalhadas:

- Eu bem disse a ele: "Não vai, Lucio, não vai!" E ele foi.
Marco Pólo

No mundo inteiro, petróleo sempre foi guerra. No Brasil também. "O Antigo Testamento já falava dele. Os árabes o usavam em suas guerras. Marco Pólo, o navegador veneziano, encontrou em 1271, na antiga Pérsia, hoje Irã, o petróleo de Baku, no Azerbaijão, nas margens do mar Cáspio, sendo produzido em escala comercial, para os padrões da época".

A partir de 1852, com o querosene do canadense Abraham Gesner, vêm a gasolina e a nafta. E em 1859, Edwin Drake, o coronel Drake, fura o primeiro poço de petróleo (21 metros), na Pensilvânia. Cinco anos depois, em 1864, já havia 543 empesas explorando petróleo nos Estados Unidos.

Em 1870, aparecem os Rockfeller, o motor de combustão, o automóvel. Em 1883, os Estados Unidos produziam 2/3 do petróleo do mundo. Mas no final do século 19, a Rússia passa a ser a maior produtora.
Lobato

Os países produtores do Oriente Médio eram roubados. E a guerra do petróleo começou. A Irak Petroleum Company, em 1926, foi repartida entre a Inglaterra (52,5%), a França (21,25%) e os Estados Unidos (21,25%). O Iraque tinha 5%. E o grande canalha foi o Sadam Hussein?

A Argentina criou sua estatal de petróleo em 1922. O México, em 1938. No Brasil, em 1931, o herói do petróleo, Monteiro Lobato, fundou a Companhia Petróleos do Brasil e começou a perfurar um poço em Piracicaba. Mas logo o Departamento Nacional de Produção Mineral publicou um estudo "provando" "a inexistência de petróleo em São Paulo".

Lobato lançou livro ("O escândalo do petróleo") acusando o DNPM de "defender interesses estrangeiros". Denunciou o CNP (Conselho Nacional do Petróleo), mandou carta a Getulio Vargas, foi preso em 1941.
Juracy

Em janeiro de 39, os baianos Manoel Inácio Bastos e Oscar Cordeiro perfuraram em Lobato, no Recôncavo da Bahia, o primeiro poço a jorrar petróleo no Brasil. E quem atestou foi o professor de Geologia da Escola Politécnica, Joaquim Souza Carneiro, pai do ex-senador Nelson Carneiro.

Criada a Petrobrás em 53, o primeiro presidente, Juracy Magalhães, contratou, para chefiar o departamento de Exploração, o geólogo americano Walter Link, que vinha da Standard Oil. Dirigiu a exploração da Petrobrás até 61. A recomendação mais enfática do "Relatório Link" era no sentido de que a Petrobrás, "se quisesse achar petróleo, deveria buscar no exterior".

Link saiu, foi substituído pelos engenheiros brasileiros Pedro de Moura, depois Carlos Walter Campos. E o petróleo começou a aparecer.
Haroldo

Toda essa epopéia está relembrada em um livro atualíssimo, "Petróleo no Brasil - A situação, o modelo e a política atual", lançado dias atrás em Salvador pelo diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima, baiano de Caitité, líder estudantil que ajudou Betinho, Aldo Arantes, José Serra e outros a fundarem a AP (Ação Popular) de 1960 a 64, engenheiro pela Universidade Federal da Bahia, preso e torturadíssimo de 76 a 79 e, depois da anistia, dirigente e deputado federal pelo PC do B.

Os serviçais de sempre das empresas internacionais de petróleo criaram em escândalo porque ele disse que "pode surgir na bacia de Santos novo campo, o Carioca, de 33 bilhões de barris". Já estava lá na pág. 151:

"As novas descobertas alteraram muito o quadro brasileiro no setor petrolífero. O Brasil alcançará a posição 20ª, se as reservas de Tupy se confirmarem em 5 bilhões de barris. Chegará à 17ª posição se a expectativa de 8 bilhões for confirmada. Poderá ficar entre a 8ª e 10ª posição caso se confirmem as hipóteses de novos reservatórios (sic) na extensão do pré-sal".

Eis aí. As reservas do megacampo Carioca já estavam lá no livro.

Fonte: Tribuna da Imprensa

terça-feira, 15 de abril de 2008

Megacampo faz de Lula novo 'xeque do petróleo', diz jornal

15/04/2008 - 06h39

A descoberta de um megacampo de petróleo na Bacia de Santos transforma o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma espécie de "xeque do petróleo", afirma nesta terça-feira uma reportagem do jornal argentino Página/12.

Como outros diários estrangeiros, o jornal repercutiu as declarações feitas na segunda-feira pelo presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Haroldo Lima, sobre o achado de um campo que poderia conter 33 bilhões de barris de petróleo, cerca de cinco vezes mais que o megacampo de Tupi (5 bilhões a 8 bilhões de barris), o maior encontrado até agora.

O Página/12 informa que, após as declarações, a Petrobras "colocou panos frios" na notícia, mas "não desmentiu um possível descobrimento", o que provocou a alta das ações da Petrobras e de suas parceiras em diferentes bolsas de valores do mundo.

"O possível novo descobrimento do Brasil ocorre no mesmo dia em que o barril de petróleo alcançou novo teto. Em Nova York, o barril terminou pela primeira vez cotado a US$ 111,76", relata o diário argentino. "Lula já está contando o dinheiro." Outros jornais A notícia chegou à Argentina, Espanha e Grã-Bretanha, onde os papéis das empresas envolvidas no consórcio de exploração da área foram negociados com alta. Em Buenos Aires, um especialista ouvido pelo La Nación disse que a descoberta pode "revolucionar o mercado petroleiro".

"Primeiro porque se abre um novo horizonte geológico que facilitaria outras explorações a grandes profundidades", disse o especialista Daniel Montamat, referindo-se à possibilidade de explorar óleo sob extensas camadas de sal, segundo o jornal. "Segundo, porque contradiz a teoria segundo a qual a exploração petroleira estava muito próxima de chegar ao seu limite." O diário econômico argentino Cronista Comercial disse que a nova reserva "poderia transformar o Brasil em uma potência petroleira mundial, como a Venezuela ou os países árabes". "Segundo porta-vozes do governo Lula, a reserva seria a maior descoberta de hidrocarbonetos do mundo nos últimos 30 anos", diz o artigo. Mas o jornal lembra que o governo Lula "reagiu com cautela" diante da notícia. "O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que é necessária uma maior cautela e análise dos dados antes de oficializar o achado, que deve ser feito diretamente pela Petrobras." Euforia Em Madri, o El País destacou a "euforia" que a descoberta representa para a companhia espanhola Repsol-YPF, que tem 25% de participação no megacampo e que, em anos anteriores, se viu envolvida em disputas por petróleo e gás na América do Sul.

"A euforia reina na sede da Repsol-YPF. Após três anos em que só chegavam da América Latina desgostos em forma de notícia, uma alegria veio compensar quase todos os dissabores recentes", escreveu o El País. "Petróleo. Petróleo em enormes quantidades." As notícias não passaram despercebidas pelo jornal britânico The Daily Telegraph, que registrou os possíveis benefícios à British Gas, detentora de 30% do campo.

Mais cauteloso, porém, o jornal lembrou apenas que a descoberta colocaria o Brasil "entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo", apesar dos "desafios consideráveis" relativos à exploração sob extensas camadas de sal marítimo.

UOL

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Petrobras inaugurará em fevereiro primeiro dique seco do Brasil



03/04/2008 - 15h17

Rio de Janeiro, 3 abr (EFE).- A Petrobras anunciou hoje que o primeiro dique seco do Brasil - que oferecerá condições para o compartilhamento simultâneo de obras de construção, conversão e reparo de emergência de plataformas de produção e de perfuração - entrará em operação em fevereiro de 2009.

O dique, em construção em um complexo de estaleiros na localidade litorânea do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, permitirá armar e reparar em seus dois píeres estruturas de perfuração e produção de petróleo do tamanho de um estádio de futebol, ancorados em águas profundas.

As instalações receberam hoje a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com seus principais ministros e executivos da Petrobras.

A empresa ainda está elaborando o programa de exploração de suas novas jazidas, localizada em uma estrutura geológica de até cinco quilômetros de profundidade em águas marinhas.

Esse campo petrolífero de 800 quilômetros de longitude e 200 de largura, localizado em águas territoriais do sudeste brasileiro, poderia conter até 80 bilhões de barris em reservas possíveis, e colocar o Brasil, em dez anos, como um dos grandes países petroleiros do mundo, segundo cálculos da empresa divulgados no final de 2007.

Até agora, a Petrobras só revelou oficialmente a existência de reservas comprovadas de entre cinco bilhões e oito bilhões de barris, no campo de Tupi, no qual terá como sócias exploratórias a portuguesa Galp e a britânica BP.

O projeto "envolve um grande volume de plataformas, o número de unidades (a construir no dique) vai depender desse programa de trabalho", disse o presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, ao apresentar os detalhes do dique seco.

Em média, cada casco das plataformas custa entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões.

A expectativa é que o dique atraia investimentos de US$ 5 bilhões em uma dezena de cascos de novas plataformas.

A Petrobras será a usuária exclusiva do dique durante os próximos dez anos a partir do início de suas operações, e depois desse período o complexo passará ao controle de sua parceira na construção do projeto, a empresa ATorre.

Até agora, as plataformas são finalizadas no Brasil a partir de cascos de navios petroleiros de segunda mão, comprados no exterior e que são reformados para depois receber as instalações de processamento de hidrocarbonetos.

"Estamos anunciando a perspectiva inédita de oferecer este dique para fazer os cascos em série do Brasil, em um processo que dura oito meses para cada unidade", disse Gabrielli.

"A idéia é construir cascos sob o mesmo padrão, o que reduzirá os custos e aumentará a capacidade de produção de petróleo do Brasil", destacou o executivo.

A expectativa é consolidar no Rio Grande do Sul um pólo naval que fará a Petrobras competitiva com concorrentes internacionais, destacou o gerente do projeto, Alexandre García.

A primeira plataforma a ser construída nestas instalações de 500 mil metros quadrados e 350 metros de longitude será a P-55, entre 2009 e 2011.

Lula também visitou no Rio Grande as obras de outra plataforma, a P-53, um projeto de US$ 1,3 bilhão com previsão de ser concluída até o final de 2008.

Essa estrutura terá capacidade para produzir 180 mil barris por dia de petróleo e seis milhões de metros cúbicos de gás natural no campo de Marlim, a 1.080 metros de profundidade.

UOL